terça-feira, julho 24, 2007

SITUAÇÃO DE NEY FRANCO ESTÁ COMPLICADA

Como numa ópera-bufa, o cenário já está todo montado. E, seguindo ritual, vai sobrar para o treinador. Fazendo coro aos gritos de revolta que partiam de cerca de 30 torcedores que pediam ontem à tarde a saída de Ney Franco, a diretoria concluiu que o Flamengo chegou ao fundo do poço e assim o habeas corpus que sustentava o técnico na Gávea, onde ganhou três títulos, parece estar no fim. Um tropeço, contra o América-RN, amanhã, em Juiz de Fora, e Ney Franco será página virada no clube.
Dirigindo o Flamengo há pouco mais de um ano, Ney enfrentou os protestos mais veementes por causa da lanterna do Brasileiro. Havia um bolo, ornamentado com a inscrição de 15 anos, referente ao tempo que o rubro-negro não conquista um Brasileiro. Ney foi chamado de burro, incompetente e ouviu, além de uma série de ofensas, o coro: “ão, ão, ão, pede demissão”.
Torcedores criticam também o volante Paulinho
À noite, os principais líderes procuraram o vice de futebol Kleber Leite exigindo a demissão imediata de Ney. Os mais radicais exigiam a saída em caso até de vitória. Kleber rechaçou a exigência, mas o palco está montado para a demissão em caso de tropeço. O argumento: sem apoio da torcida, o time afunda de vez.
E a escolha do substituto promete ser uma queda-de-braço à parte. O presidente Márcio Braga gosta muito de Abel, que já teria sido até sondado informalmente. Mas Kleber, que adora Joel Santana e ultimamente tem elogiado muito Zetti, tem carta branca.
Abatido, enquanto ouvia a torcida gritando o nome de Adílio e uma enxurrada de desaforos, Ney, numa emocionada entrevista, disse que não pretende jogar a toalha:
- Se fosse culpa minha, seria o primeiro a ir embora, já teria posto o cargo à disposição, seria o primeiro a sair.
Um dos poucos a defender Ney Franco foi o supervisor Isaías Tinoco, que à noite, tentando acalmar os ânimos, falou a alguns torcedores:
- Vocês têm que reclamar com o Souza, que fez essa lambança toda…
Curiosamente, o atacante Souza, que começou a derrubar o Flamengo no Sul com sua expulsão infantil no primeiro tempo, por ter agredido um rival, foi praticamente poupado da ira geral. Assim como Irineu, autor do gol contra que deu ao Grêmio a vitória por 1 a 0 anteontem. O apoiador Gérson Magrão foi muito mais perseguido e ofendido.
Até mesmo o antigo xodó Paulinho, que nem em campo estava na derrota para o Grêmio, domingo, foi hostilizado. E de forma cruel e desmoralizante. Contra Souza a reação foi diferente. Ele conversou com os torcedores e foi embora como se nada tivesse feito.