quarta-feira, abril 25, 2007

Grandes Vitórias sobre o Botafogo P.3

Não era para ser uma noite rubro-negra, aquela quarta-feira, onze de dezembro de 1991. O Botafogo vinha de arrancar um empate com o próprio Flamengo, no domingo anterior, depois de estar perdendo por dois a zero. Aquele empate colocara o Flamengo na fase final do campeonato, pela soma de pontos dos dois turnos, mas obrigava um jogo extra para decidir a Taça Rio, e o Botafogo era o favorito da vez. Tinha mais gás, diziam. O Flamengo perdeu a sua chance, sentenciavam.
Assim estava o campeonato, Fluminense classificado pela Taça Guanabara, Flamengo classificado pela soma total de pontos, mas restava decidir a Taça Rio. Vitória do Botafogo e o campeonato seria decidido em um triangular. Vitória do Flamengo e um Fla-Flu apontaria o campeão estadual de 1991.
A julgar pelas manchetes dos jornais, pela matéria do Globo Esporte, o Botafogo atropelaria o Flamengo e partiria célere para o tricampeonato. Era o time do campeonato, só se falava nisso, Botafogo tri. E os rostos botafoguenses do Globo Esporte, Leo Batista e Fernando Vanucci, não conseguiam disfarçar o sorriso ao falar do jogo, como se nas entrelinhas do teleprompter estivesse faiscando a estrela solitária com a inscrição Botafogo tri, Botafogo tri, Botafogo tri.
Aos vinte e dois minutos do primeiro tempo do jogo extra, com zero a zero no placar e sem nenhum indicativo de que o Botafogo estivesse prestes a marcar, a torcida alvinegra começou a gritar tri!-campeão!, tri!-campeão!, tri-campeão! E sob tais gritos despropositados foi que o meia Carlos Alberto Santos partiu para cima de Júnior Baiano, quase no bico esquerdo da grande área. Adiantou um pouco e Baiano entrou firme, com os dois pés, roubando-lhe a bola. Estava absolutamente decidida a Taça Rio.
O lance de Júnior Baiano serviu para calar metade dos botafoguenses, e também para deixar a bola com Charles Guerreiro, que avançou até a metade do campo. A cada passada de Charles, mil botafoguenses se calavam. De Charles a bola foi até Zinho no comando, e daí a Paulo Nunes na meia-direita.
Àquela altura talvez uma meia-dúzia de cachorros pingados ainda gritassem tri!-campeão!, mas quando Charles Guerreiro passou correndo e Paulo Nunes serviu-lhe um passe, o Maracanã fazia o mais absoluto silêncio.
Entre a bola retomada por Júnior Baiano, ainda sob os gritos botafoguenses, até Charles Guerreiro recebê-la ao lado da área em solene silêncio, passaram-se exatos dezessete segundos. E como Charles tocou de primeira para Gaúcho enfiar o pé direito e arrebentar a rede de Ricardo Cruz, dezessete segundos foi o tempo que o Flamengo levou para restabelecer a ordem no recinto, sem prejuízo da algazarra de quem de direito, a maior torcida do mundo.
E Júnior, perguntado depois do jogo se o Flamengo dera tudo de si para sem campeão, respondeu: - O Flamengo deu-lhe foi um cala-boca. E só precisou de dezessete segundos, acrescento eu.
Flamengo 1 x 0 Botafogo Campeonato Estadual - 2º Turno - Taça Rio - (Decisão - Jogo Extra)11/12 - Estadio: Maracanã - Rio de JaneiroTime: Gilmar, Charles Guerreiro, Gotardo, Júnior Baiano, Piá, Uidemar, Júnior, Nélio(Rogério), Zinho, Paulo Nunes(Marcelinho) e Gaúcho.Gol: Gaúcho.